O que diz o livro sobre a FIFA que a Globo não quer publicar

O livro que a Globo comprou e não publica: propina para as Copas de 2026 e 2030. Imagem: Montagem sobre Reprodução/Profile Books

O livro que a Globo comprou e não publica: propina para as Copas de 2026 e 2030.

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Versão do livro em inglês (mais acessível)

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LANÇADO EM JUNHO de 2018, o livro Red Card, do jornalista Ken Bensinger, conta a história do escândalo de corrupção na FIFA investigado pelo FBI. O caso levou à prisão de sete autoridades da FIFA em um hotel em Zurique em maio de 2015, às vésperas de um congresso da organização.

A Folha informou nesta quinta (10) que o Grupo Globo comprou os direitos de publicação de Cartão Vermelho no Brasil, ainda antes do lançamento. A obra já foi lançada em Portugal. Porém, nada de chegar aqui. Kensinger contou ao jornal que achou “muito estranho” a demora para o livro sair.

A Agência adquiriu a versão eletrônica do livro. A palavra “Globo” aparece nove vezes. Dessas, uma como referência bibliográfica do jornal O Globo e duas no índice onomástico (“O Globo” e “TV Globo” – esta, curiosamente, logo após “Trump Tower”). As outras seis podem ser resumidas assim:

  • Versão portuguesa (clique para adquirir)

    Versão portuguesa (clique para adquirir)

    José Hawilla (1934-2018) estava chefiando o departamento de esportes da TV Globo no fim dos anos 70. Foi demitido após apoiar uma greve dos jornalistas esportivos, e em 1980 comprou a Traffic, uma pequena agência de São Paulo que vendia publicidade em ônibus;

  • A TV Globo pagou US$ 340 milhões pelos direitos de transmissão de um pacote da FIFA que incluía as Copas do Mundo de 2010 e 2014, as Copas das Confederações de 2009 e 2013, e duas Copas do Mundo femininas. A ABC e a ESPN pagaram US$ 100 milhões pelos direitos da transmissão em inglês. O livro dá a entender que a diferença pode ser compreensível pelo fato de o Brasil ser o país mais apaixonado por futebol no mundo;
  • Em 1978, durante uma partida entre Internacional e Palmeiras transmitida pela TV Globo, chegou ao Beira-Rio a notícia da morte do Papa Paulo VI. Um repórter anunciou o falecimento, mas Hawilla não comentou o fato no ar;
  • No fim dos anos 80, a Copa América era o maior tesouro da Traffic. Houve uma festa no Hotel Unique em São Paulo para celebrar os 30 anos da empresa; o próprio Pelé compareceu. Hawilla foi chamado pelo jornal O Globo de “o homem mais poderoso no futebol brasileiro”. Mas ele se sentia preso, porque precisava pagar subornos a cartolas. “Todo o futebol parecia podre para ele”, segundo o livro;
  • O empresário argentino Alejandro Burzaco, presidente da empresa de marketing esportivo Torneos, contou em um tribunal em Nova York que havia pago pelo menos US$ 160 milhões em suborno para cerca de 30 pessoas antes de ser indiciado, em maio de 2015. Segundo ele, a Torneos, a Televisa e a TV Globo pagaram US$ 15 milhões de suborno para um oficial da FIFA em troca dos direitos das Copas de 2026 e 2030;
  • A Globo e a Televisa negaram envolvimento em corrupção.

O conteúdo parece razoavelmente inofensivo. Bensinger relata sobre o caso de propina algo que já saiu na imprensa, que foi o depoimento de Burzaco. Mas na emissora que editou até o filme Tim Maia para não pegar tão mal para Roberto Carlos, imagem é tudo.

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