BORIS JOHNSON E JAIR Bolsonaro conversaram por telefone na noite desta quinta (3). A informação foi divulgada à imprensa pelo governo britânico.
“O primeiro-ministro conversou com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro esta noite sobre a situação na Ucrânia”, diz o texto.
“Os líderes concordaram com a exigência de um cessar-fogo urgente na Ucrânia e disseram que a paz tem que prevalecer”.
O timing dessa pauta não faz sentido.
Brasil e Reino Unido votaram juntos, na sexta passada (25), a favor da resolução no Conselho de Segurança da ONU que “deplora nos termos mais fortes” a agressão russa à Ucrânia e exige que a Rússia “cesse imediatamente o uso da força contra a Ucrânia”. A Rússia, naturalmente, vetou o texto.
Os americanos levaram então o texto para a Assembleia Geral. Ao contrário do Conselho, que tem apenas 15 países, da Assembleia Geral participam todos os 193 Estados-membros da ONU. Na Assembleia, Brasil e Reino Unido de novo votaram a favor. Apenas cinco países votaram contra, mostrando o tamanho da panelinha do Putin.
O pedido de “cessar-fogo urgente”, portanto, já está superado. Brasília e Londres já concordaram com isso. Por escrito. Duas vezes.
Há temas mais urgentes na agenda dos dois governos. O líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), pediu hoje urgência ao projeto de lei que libera mineração em terras indígenas. Horas depois do telefonema entre Boris e o presidente.
Boris e Bolsonaro têm relações próximas há algum tempo.
Até o fim de 2020, o governo do Brasil havia fechado contrato para comprar apenas uma vacina contra Covid: a da AstraZeneca, empresa sueco-britânica com sede no Reino Unido. Também é britânica a mineradora Anglo American, que, em carta publicada em janeiro de 2021, disse não descartar a futura exploração de terras índigenas no Brasil.
A Agência perguntou na manhã de hoje à Embaixada do Reino Unido em Brasília, ao Planalto e ao Itamaraty se Boris e Bolsonaro conversaram sobre outros assuntos. Ninguém respondeu.