O GOVERNO BOLSONARO QUER convencer o público de que é possível combater a pandemia na base da canetada.
Nesta quinta (3) o presidente foi ao Twitter dizer: “Em virtude da melhora do cenário epidemiológico e de acordo com o § 2° do Art. 1° da Lei 13.979/2020, o @minsaude ,@mqueiroga2, estuda rebaixar para ENDEMIA a atual situação da COVID-19 no Brasil”.
Desmentir sempre exige esforço em grau de magnitude maior do que o de mentir. Vou me concentrar nos X pontos mais importantes.
Primeiro, tudo o que o tal § 2° diz é que “[a]to do Ministro de Estado da Saúde disporá sobre a duração da situação de emergência de saúde pública”.
A lei permite ao ministro dizer quando acaba a situação de emergência, não a situação do vírus. Por isso, Queiroga nem sequer tem o que “rebaixar”. Não há documento de Mandetta ou Teich decretando pandemia.
Segundo, quem declarou pandemia foi a OMS, não o Ministério da Saúde. “Pandemia”, como diz o nome, é no mundo inteiro. Só a OMS pode dizer quando a pandemia acaba.
Terceiro, endemia também pode matar muito. A malária é endêmica. Segundo relatório da OMS, matou 627 000 pessoas no mundo em 2020. Oficialmente, no mesmo ano, o primeiro da pandemia, foram registradas 1,8 milhão de mortes por Covid-19.
Quarto, a pandemia ainda mata muito no Brasil. O país registrou ontem (2) 335 mortes por Covid – numa quarta-feira de Cinzas. A média móvel de mortes nos últimos sete dias está em 509. São dois ou três aviões cheios caindo todo dia.
Quinto, a publicação de Bolsonaro no Twitter veio acompanhada desta foto. Ela dá a entender que o presidente e o ministro se encontraram hoje.
Nas agendas oficiais de ambos, porém, esse encontro não aparece. Bolsonaro se reuniu nesta manhã com os ministros Anderson Torres e Carlos França. Já Queiroga teve um “diálogo virtual com ministros da Saúde”.
Sexto, essa ideia de declarar endemia na canetada começou com o premiê da Espanha, Pedro Sanchez. Ele disso isso a uma rádio em 10 de janeiro, há quase dois meses. Hoje, a média móvel de mortes na Espanha ainda está em 157 por dia.
Sétimo, vale lembrar que Queiroga já falou publicamente sobre o assunto no fim de fevereiro. Suas declarações foram reproduzidas pela grande imprensa em tom acrítico. Ninguém fez uma simples pergunta ao ministro: “Quem o senhor pensa que é?”.