Sérgio Sá Leitão corria o risco de, por um bom tempo, ser considerado o último ministro da Cultura no Brasil. Mas não parecia incomodado com o prometido fim da pasta. Porque, já próximo ao final do segundo turno, deu-se a tomar as dores de Jair Bolsonaro. E a bizarramente a contribuir com a versão segundo a qual Roger Waters teria recebido dinheiro para criticar o presidenciável em shows pelo país.
“Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno. Na Folha, chamou Bolsonaro de ‘insano’ e ‘corrupto’. Sem provas, claro. Disse aos fãs que não voltará ao Brasil caso ele ganhe. Isso sim é caixa 2 e campanha ilegal!”
Ministro da Cultura bate boca com Roger Waters por causa de Bolsonaro
Em resposta a seguidores, o ainda ministro tentou ajustar fala tão irresponsável. Para tanto, misturou uma contratação do artista americano sem qualquer finalidade política com a denúncia publicada pela Folha de S.Paulo, aquela em que empresários teriam contratado spammers em benefício da campanha de Bolsonaro:
“Roger Waters recebeu milhões de uma empresa brasileira e está fazendo campanha eleitoral a favor de um candidato, em oito shows e em entrevistas, procurando interferir no processo das eleições. Por muito menos (e sem provas), Bolsonaro foi acusado de caixa 2 e campanha ilegal. (…) A questão não é receber para fazer shows. É usar os shows e entrevistas no Brasil, pelos quais recebeu, para fazer campanha eleitoral direta, interferindo no processo. Os 8 shows acontecem justamente entre o 1º e o 2º turnos. Desde o primeiro ele embarcou no ‘Ele Não’ do Haddad.”
Ministro da Cultura bate boca com Roger Waters por causa de Bolsonaro
Se a situação já era absurda, o protegido de Sá Leitão piorou o quadro ainda mais quando a campanha de Bolsonaro pediu a inelegibilidade de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila reclamando a suspeita de os shows de ex-baixista do Pink Floyd terem recebido verba pública. E quem precisou desmentir a interpretação equivocada da confusa manifestação do ministro da Cultura? O próprio Ministério da Cultura:
“Em pesquisa realizada no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (SALIC), constatou-se a inexistência de registro de projeto apresentado no âmbito da Lei Rouanet referente ao artista Roger Waters tendo como proponente a empresa ‘T4F ENTRETENIMENTO S.A.’ – CNPJ: 02.860.694/0003-24, ou qualquer outro proponente. O espetáculo do cantor Roger Waters, realizado nas cidades brasileiras em 2018, não recebeu apoio pelo mecanismo de incentivo fiscal estabelecido pela Lei nº 8.313/1991”
Roger Waters não recebeu dinheiro da Lei Rouanet, diz Ministério da Cultura
Contudo, vale concluir que, dos citados nos parágrafos acima, ao menos dois personagens recebiam verba pública enquanto faziam campanha: Jair Bolsonaro e Sérgio Sá Leitão.
