O MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, Ernesto Araújo, descartou uma das mais tradicionais ambições da política externa brasileira: uma vaga permanente no Conselho de Segurança. A ideia foi discutida ainda em 1944, quando a ONU estava sendo formada.
Araújo declarou ao Valor, em entrevista publicada nesta segunda (25): “O Conselho de Segurança a gente não está muito preocupado com isso”.
Mais importante órgão da ONU, o Conselho tem 15 cadeiras. Dez são rotativas, ocupadas por um mandato de dois anos por países eleitos pela Assembleia Geral. As outras cinco são permanentes, reservadas às grandes potências vencedoras da II Guerra Mundial: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China.
Uma reforma do Conselho é demanda do Brasil ao menos desde 1989, quando o então presidente José Sarney fez um discurso na Assembleia Geral em favor da “multipolaridade”, embora não mencionando o desejo explícito do Brasil em ser contemplado. Nos governos Itamar e FHC, a diplomacia brasileira continuou argumentando em favor de incluir assentos permanentes para países em desenvolvimento.
Em setembro de 2004, a ambição brasileira ganhou novo ímpeto com a formação do G4, parceria entre Brasil, Alemanha, Índia e Japão. Os quatro apoiavam-se mutuamente na busca de se tornarem os novos membros permanentes do CS. O projeto foi apoiado por vários outros países, incluindo a França (que já é um membro permanente). Um dos grandes obstáculos para a implementação do G4 foi o Consenso de Ezulwnini, posição do bloco dos países africanos segundo a qual a os novos membros permanentes teriam necessariamente de ter poder de veto. Outro adversário feroz foi John Bolton, que trabalhava no governo Bush e hoje é assessor de segurança nacional da administração Trump.
Com maior ou menor ênfase ao longo do tempo, porém, a ambição brasileira por uma cadeira permanente no CS é um legado da política externa brasileira, em busca de maior voz e voto no fórum multilateral mais importante do mundo.
“Arnesto” Araújo tem outras prioridades.