Jair Bolsonaro elogiou ditador pedófilo do Paraguai: “homem de visão, um estadista”

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Além da corrupção, tráfico, assassinatos e apoio a nazistas, Alfredo Stroessner estuprava em média quatro meninas por mês.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

JAIR BOLSONARO deveria calcular melhor os elogios feitos a qualquer ditador não-comunista. Seria uma forma de evitar momentos constrangedores como o observado em 26 de fevereiro de 2019. Ao visitar a hidrelétrica de Itaipu, deu-se não só a parabenizar os generais que comandaram o Brasil no Regime Militar, como também Alfredo Stroessner, autocrata que por 35 anos fez do Paraguai uma ditadura.

“Isso tudo não seria suficiente se não tivesse, do lado de cá, um homem de visão, um estadista, que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia prosseguir, progredir, se tivesse energia. Aqui também a minha homenagem ao nosso general Alfredo Stroessner.”

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De imediato, as redes sociais passaram a rememorar quem foi Stroessner. A jornalista Mônica Waldvogel usou o Twitter para destacar que, além “da crueldade e dos assassinatos, foi talvez o ditador sul-americano mais corrupto. A participação paraguaia na construção de Itaipu, coordenada por seu braço direito Enzo Debernardi, custou muito caro ao Brasil“. Mas os detalhes mais impressionantes foram trazidos por Ariel Palacios. O correspondente internacional da mesma GloboNews detalhou as denúncias de pedofilia que atingiam o paraguaio.

Os crimes cometidos pela ditadura militar paraguaia estão sendo investigados na Justiça desde os anos 90, entre os quais a tortura e desaparecimento de opositores políticos. No entanto, apenas em 2016 começaram as averiguações sobre os estupros sistemáticos cometidos pela cúpula do regime do general Alfredo Stroessner, que durou de 1954 a 1989.

O principal protagonista dos abusos sexuais era o próprio ditador, que exigia um fornecimento constante de garotas virgens para seu uso. O requisito era que as meninas deveriam ter entre 10 e 15 anos de idade.

Um dos casos investigados pela Comissão de Verdade e Justiça é o de Julia Ozorio, que tinha 12 anos quando foi sequestrada da casa de seus pais em Nova Itália, em 1968, pelo coronel Julián Miers. Ela foi levada a uma chácara, onde foi escrava sexual durante dois anos. Miers era o comandante do regimento que se encarregava da guarda pessoal de Stroessner. Os militares buscavam e sequestravam meninas da área rural de acordo com os “gostos” de Stroessner e seus ministros.

As primeiras denúncias sobre os estupros sistemáticos do ditador paraguaio foram publicadas pelo jornal The Washington Post em 1977. Segundo os investigadores do Departamento de Memória Histórica e Reparação do Ministério da Justiça em Assunção, capital paraguaia, Stroessner estuprava em média quatro meninas por mês.

Ariel Palacios

Durante os 35 anos em que cometia essas barbaridades, Stroessner tocou o Paraguai como uma democracia de fachada, em eleições vencidas com mais de 95% dos votos. O teatro envolvia uma oposição inócua, uma vez que os verdadeiros opositores estavam presos, exilados ou sendo exterminados. Aos cuidados do general, o país virou o paraíso do contrabando de drogas, produtos eletrônicos e carros de luxo. Ainda nos anos 1950, deu guarida a centenas de nazistas criminosos de guerra.

Jair Bolsonaro, o presidente do Brasil, chamou essa figura execrável de “homem de visão, um estadista” – para a máxima vergonha da história brasileira.

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