Com 1% dos votos, Marina confirma vocação para Eymael

Marina Silva: 'too little, too late'. Cartum de João Montanaro.

MARINA SILVA TEVE 1% dos votos em sua terceira tentativa consecutiva de chegar à Presidência, confirmando seu status de Eymael. Tornou-se uma das candidatas folclóricas, que reaparecem a cada eleição e que sabemos não terem chances nem de chegar ao 2º turno.

A baixa votação, é verdade, é um mérito dos eleitores de Marina. O eleitor dela não é convicto ou fanático como muitos daqueles que preferem os líderes da corrida. Trata-se de alguém que enxerga vantagens razoáveis na candidata, sua equipe e suas propostas, e, por isso mesmo, está disposto a trocar o voto nela para evitar um mal maior.

Acontece que a queda este ano foi grande demais. Marina perdeu 95% dos votos – não em relação às pesquisas, mas aos 22 milhões de votos que teve em 2014.

O principal motivo ficou claro com os resultados deste domingo (7). A principal pauta política dos últimos anos foi o impeachment. Quem esteve do lado do impeachment ou pelo menos contra o PT, de forma geral, se deu bem. Pois bem. Durante a votação do impeachment de Dilma na Câmara a Rede tinha quatro deputados. Dois votaram a favor e dois contra! Marina pode ter se posicionado a favor, mas não conseguiu liderar uma bancada de quatro representantes. Mais tarde, no Senado, Randolfe Rodrigues foi um dos mais árduos defensores de Dilma, disputando o título com Kátia Abreu.

A Rede foi um partido criado por Marina, após passagens dela pelo PV e PSB. O partido dela! Se não conseguiu liderar quatro deputados para que votassem do mesmo jeito, difícil imaginar como lideraria um ministério ou uma base aliada.

Marina ficou atrás em votos de Henrique Meirelles, Cabo Daciolo e João Amoêdo.

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Outro grande derrotado da eleição é Geraldo Alckmin, que teve o pior desempenho do PSDB na história das eleições presidenciais. Marcou menos de 5% dos votos, mesmo tendo apoio do Centrão e maior tempo de TV. Sua campanha pode ter cometido vários erros, mas a verdade é que nenhum marketing poderia reverter em poucos meses o fato de que Bolsonaro capturou quase todo o voto antipetista nos últimos quatro anos.

Em 2014, houve quem pensasse que Aécio conquistou 50 milhões de votos. É falso; os votos não eram de Aécio, eram contra o PT. Os líderes tucanos passaram 2015 trancados em seus poleiros de marfim, enquanto movimentos como o MBL chamavam o povo às ruas. Em março de 2016, Alckmin e Aécio foram ao grande protesto ‘Fora Dilma’ na Avenida Paulista e receberam uma estrondosa vaia. Quiseram pegar o bonde andando na pauta do impeachment. Se deram mal. Já integrantes do MBL e a autora intelectual do pedido de impeachment vão se tornar legisladores a partir de 2019.

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Também é interessante falar de Boulos. A rigor, Boulos saiu perdendo. Teve menos de 620 000 votos, contra os 1,6 milhão de Luciana Genro em 2014. Na disputa presidencial, o PSOL parece ter murchado.

Mas é compreensível. Dilma liderava as pesquisas em 2014. Assim, o eleitor de esquerda se sentia confortável em votar em Luciana. Em 2018, o #elenao falou mais alto e esse eleitor foi de Ciro ou Haddad em vez daquele que realmente preferia.

Mas na Câmara o PSOL irá de 6 para 10 deputados. Hoje, com grande ajuda da imprensa, o PSOL já é a voz mais forte do PLAPT (Partido Linha Auxiliar do PT). No próximo Congresso, terá ainda mais musculatura para repercutir suas pautas e encampar já a partir de 1º janeiro o ‘Fora Bolsonaro’, que é o cenário mais provável. O PSOL se posicionou 113% contra o impeachment, sem qualquer ambiguidade.

Ora, vocês questionam, mas a Rede da Marina também cresceu! Terá cinco senadores (o PSOL não tem nenhum)! É verdade. Mas são, ao que tudo indica, políticos com brilho próprio. Até prova em contrário, não necessariamente votarão em conjunto, certamente não por orientação de Marina. Já o PSOL é um partido unidíssimo, coerentíssimo, que expulsou de seus quadros o Cabo Daciolo.

Que teve mais votos que a Marina.

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