A estratégia de Lula saiu pela culatra

Petistas fazendo vigília pela liberdade de Lula. Foto: Ricardo Stuckert

Trabalhada para garantir liberdade ao petista, a candidatura presidencial é o que o mantém preso

EM JUNHO de 2018, Fernando Haddad surgiu em manchete dizendo que “Lula rejeitava acordo para ser solto e não se candidatar“. Quem propôs tal acordo? Muito se perguntou, nada responderam. Mas, dois meses antes, Gilmar Mendes fora pauta da revista Época como alguém que auxiliava o PT. E, já no subtítulo, era destacado: “Para o ministro, as chances de o ex-presidente reconquistar a liberdade só vão aumentar quando ele se declarar fora do páreo presidencial“.

Dias Toffoli é tido como um braço direito do “companheiro Gilmar”. E, mesmo antes de qualquer votação, já se sabe que presidirá o STF em pouco tempo. Em coluna para a Folha de S.Paulo, Monica Bergamo enfatizou que “Lula e o PT tinham a expectativa de que o STF poderia rever a prisão de segundo grau antes das eleições“. Mas, na nota anterior, já havia dado o recado do próximo presidente do Supremo:

“O magistrado evita falar de casos concretos. Mas já deixou claro a colegas do Supremo, por exemplo, que não pautará as ações que questionam a prisão de condenado em segunda instância antes do segundo turno das eleições presidenciais —mesmo sendo favorável à revisão do tema.”

A ideia de buscar um terceiro mandato presidencial nasceu quando Lula, encurralado pela Lava Jato, não conseguia convencer o governo Dilma a mudar o comando da Polícia Federal. O petista jamais tornou isso público, mas a estratégia parecia clara para qualquer analista político: por liderar uma corrida presidencial, a Justiça não suportaria a pressão popular e findaria por evitar sua prisão ou libertá-lo.

Faltando menos de três meses para o pleito, resta a certeza de que o tiro saiu pela culatra. E o ex-presidente só continua encarcerado porque o sistema prefere acenar para a opinião pública afastando a possibilidade de um presidiário se livrar da cadeia com uma faixa presidencial.

É pecado subestimar a capacidade política de alguém que governou o país por oito anos e ainda garantiu dois mandatos a uma sucessora. Mas, nessa iniciativa, Lula derrapou embriagado de uma autoconfiança que já não fazia sentido.

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