Por que Bolsonaro tem tanto medo do Carnaval

O bloco Mulheres Rodadas: humor é o ponto fraco dos Bolsonaro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O bloco Mulheres Rodadas, em 2018: humor é o ponto fraco dos Bolsonaro.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

BOA PARTE DA IMPRENSA foi unânime ao analisar a justificativa para a publicação do infame vídeo do xixi, ou ‘golden shower’. O vereador do Rio de Janeiro que chefia o País – e o pai dele – precisavam deslegitimar os inúmeros protestos de Carnaval contra o governo. Além do famoso ‘carinho da torcida’ na forma daquele grito que rima com jambu, foliões em muitas cidades vestiram fantasias que faziam zoeira com os Bolsonaro, como roupas de laranja e até um grupo de dezenas de pessoas que se vestiu dos depósitos de 2 000 reais realizados pelo hoje senador Flávio.

Pois muito bem. Por que essa retórica é especialmente perigosa para os Bolsonaro? Pelo mesmo motivo que Alexandre Kalil (PHS) venceu a eleição para prefeito de Belo Horizonte em 2016. Explico.

Kalil veio do mundo do futebol. É um especialista da zoação, do insulto, daquilo que hoje é muitas vezes erroneamente chamado de “bullying”, que na verdade é um fenômeno muito específico. Seus adversários em 2016 partiram pra cima dele em debates e se deram mal. Por ser um relativo novato no mundo da política, ele não estava preso aos mesmos códigos de etiqueta de deputados estaduais, vereadores e secretários (seus adversários), e, pela sua experiência no Galo, estava mais do que afiado para responder a provocações.

Os Bolsonaro, na internet, estão em seu “mundo do futebol”. São reis do bullying – este, real, porque, como o Sr. Burns, mandam seus cachorros para cima de quem os desagrada.

Mas e no Carnaval? No Carnaval eles nada podem. Estão sujeitos ao escárnio, à zombaria, ao deboche, e, para arrepio de suas almas sensíveis, até ao palavrão. Nesse terreno do asfalto eles são fracos. É sua vulnerabilidade como pokémons.

Daí a necessidade de Carlos Bolsonaro e seu pai mostrarem o Carnaval como festa degenerada. Logo eles, os fãs do “politicamente incorreto”, os adoradores de Joaquin Teixeira, precisam posar de Loló Ventura, a senhora escandalizada vivida por Eva Todor em Hilda Furacão.

Na era petista eu já defendia que a melhor arma contra o petismo era o humor. Era preciso, e ainda é, zombar do petismo, mostrar como ele é ridículo, insano. É preciso fazer um musical sobre o mensalão com Zé Dirceu no papel principal como um trágico herói incompreendido. É preciso um CD inteiro no estilo Mamonas Assassinas sobre Dilma e Lula. É preciso ainda fazer muita zombaria com o PT.

Enquanto isso, já que é Carnaval, é preciso zoar o governo.

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