PT já prepara narrativa do ‘golpe do STF’ em caso de derrota

Cadastramento biométrico, iniciado no governo Lula, está a um passo de virar 'golpe'. Foto: Cedê Silva/A Agência

NÃO É SÓ BOLSONARO quem não está disposto a aceitar a eleição se perder: o PT também. Já expert em inventar ‘golpes’ sucessivos que não existem, o partido está preparado para, se necessário, culpar o STF pela sua derrota, numa narrativa totalmente falsa sobre o cancelamento de títulos de eleitor e o cadastramento biométrico.

Figuras de maior peso no partido por ora não ventilam a tese; deixam esse trabalho para os intelectuais orgânicos e os ativistas de Twitter. De qualquer forma, já contam com a ajuda de parte da imprensa, que produziu manchetes enganosas a respeito da decisão do Supremo tomada na última quarta (26).

Vejam por exemplo este título do R7: Decisão do STF cancela título de mais de 3 milhões de eleitores. Falso. Ou este da Exame: Maioria do STF decide cancelar títulos de eleitores sem biometria. Falso também. E neste caso pior ainda, porque o texto original é da Agência Brasil, que deixou um título correto: Eleições: maioria do STF mantém cancelamento de títulos sem biometria. Ou seja: a revista da Abril reproduziu a notícia certa integralmente, mas por alguma razão preferiu uma manchete falsa.

A história da carochinha é atraente: o STF malvado cancelou 3,3 milhões de títulos de eleitor por falta de cadastramento biométrico. A maioria desses títulos está em cidades pobres do Norte e Nordeste, que costumam votar no PT. É golpe!

A verdade: o STF não cancelou título nenhum. Eles já estavam cancelados pelo TSE; o Supremo apenas manteve a decisão. O PSB, agindo como AstroTurf do PT, entrou com pedido de última hora (19 de setembro!) para reverter o cancelamento, precisamente para preparar essa narrativa.

Em boa parte do Brasil, o cadastramento biométrico obrigatório se encerrou no começo deste ano. A quem teve o título cancelado foi dado o prazo de 9 de maio para se regularizar. Maio! Mas o PSB estava muito preocupado com a Copa do Mundo na Rússia e só lembrou-se de agir em 19 de setembro…

O cadastramento biométrico começou em 2008, durante o governo Lula. Em 2017, o processo ajudou a encontrar 25 000 títulos de eleitor duplicados. Em nenhum momento durante todos esses anos mereceu protesto por parte de petistas.

Mas eis que surge uma eleição que promete ser muito apertada. Prevenir é melhor do que remediar. Por que não produzir uma mentira? Improvisa-se um pedido judicial qualquer, e, diante da já esperada negativa, bota-se a culpa no STF.

Cerca de 3,3 milhões de títulos de eleitor foram cancelados neste ano, embora não se saiba quantos deles por falta de cadastramento biométrico. Dilma venceu Aécio em 2014 por uma diferença de 3,4 milhões de votos. A matemática não escapou ao sempre obediente Lewandowski, que votou para reverter os cancelamentos:

“E digo mais, eminente ministro Fachin, Vossa Excelência sabe que nas últimas eleições presidenciais, a diferença da candidata eleita para aquele que perdeu foi de 3,5 milhões de votos. Imagine Vossa Excelência se nós tivermos eleição, uma apertada como esta, uma diferença dessa natureza numa eleição que já vem sendo questionada por determinados setores, e não tenho o pejo de dizer, antidemocráticos, inclusive ante a opinião pública internacional e tendo em conta os observadores da OEA que estão agora acompanhando as eleições, como é que vamos ficar, senhor presidente?”.

Com a segurança de quem sabe que o PT é um partido essencialmente internacional, Lewandowski apela até mesmo aos observadores da OEA. Ele nunca quis realmente atender ao pedido que veio supostamente do PSB. Só quer contar uma história da carochinha.

Mas se Lewandowski não viu, deixo aqui o vídeo dos dedinhos do TSE, que foi ar na TV no ano passado e é obviamente inspirado no Castelo Rá-Tim-Bum:

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