HÁ MUITAS RETROSPECTIVAS possíveis para 2018, mas apenas um fato incontestável: Lula foi preso. E pronto.
O 7 de Abril deveria entrar para o calendário nacional como uma data tão importante quanto o 7 de Setembro. É o dia em que os brasileiros declaramos independência do coronelismo e do atraso e mostramos, de forma incontestável, que ninguém está acima da Lei.
Foi preciso muito trabalho, muito protesto, muito jornalismo e muitos inquéritos. A Operação Lava Jato completou quatro anos antes da prisão do comandante do petrolão. Um impeachment foi necessário para mostrar a criminosos como Marcelo Odebrecht que o PT não tinha força política para tirá-los da cadeia sem uma delação. Ou seja, o impeachment de Dilma foi fundamental para o avanço da Lava Jato.
Antes disso, em março de 2016, uma gravação publicada estrategicamente por Sergio Moro impediu Lula de virar ministro, talvez o não-fato mais importante de nossa história recente: naquela semana o País poderia ter assumido de vez uma direção rumo à Venezuela.
Por duas vezes a prisão de Lula esteve ameaçada: primeiro, em operação de inteligência orquestrada por José Dirceu na qual o desembargador Rogério Favreto foi o principal agente. Depois, quando Marco Aurélio Mello resolveu puxar o tapete no apagar das luzes de 2018, na tentativa de cumprir o acordo “com o Supremo, com tudo“.
A prisão de Lula teve alguma ajuda da providência.
Uma discussão no STF que abriu caminho para mandar Lula para a cadeia foi interrompida. O ministro Marco Aurélio Mello (sempre ele) mostrou um bilhete de voo para o Rio na sessão de 22 de março, adiando a pauta para 4 de abril. Pois muito bem.
Isso significou que a sessão seguinte só se deu depois de dois eventos importantes. O primeiro foi a entrevista de Sergio Moro ao Roda Viva, maior audiência do programa em 2018, na qual o juiz muito cuidadosamente mandou um recado a Rosa Weber: “Tenho a expectativa de que esse precedente não vai ser alterado (…) passaria uma mensagem errada de que não cabe mais avançar”.
O segundo foi a estreia naquele fim de semana na Netflix da série O Mecanismo, com a inesquecível cena dos personagens na cadeia comemorando a passagem de seu processo para a quarta instância: “foi pro Supreeemooooo!”. Disparado a cena que mais viralizou.
Os dois episódios certamente ajudaram a criar o clima para Rosa Weber votar de acordo com o óbvio: Lula tinha que ir para a cadeia.
De forma patética, Lula se reuniu com asseclas e capangas por duas noites no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde possivelmente gravou vídeos para a eleição de 2018. Os braços da Justiça lhe alcançaram mesmo assim.
A prisão de Lula é uma conquista civilizatória para o Brasil. Mantê-lo preso é o teste derradeiro. Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão no caso do triplex. Deve ser condenado em breve no caso do sítio em Atibaia. É réu ainda em outros cinco processos.
A civilização brasileira marcará outra grande conquista se mantiver Lula na cadeia pelo resto de sua vida. Todas as outras notícias de 2018, incluindo a derrota de Dilma nas urnas, são notas de rodapé.