Mesmo sem soltar Lula, PT teve vitória: emplacar narrativa

Rogério Favreto com Tarso Genro em foto de 2008: mesmo sem soltar Lula, ação de desembargador reforça uma narrativa. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Rogério Favreto com Tarso Genro em foto de 2008: mesmo sem soltar Lula, ação de desembargador reforça uma narrativa

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O DESEMBARGADOR PLANTONISTA Rogério Favreto pode não ter conseguido soltar Lula naquele fatídico domingo, 8 de julho, mas mesmo assim o PT obteve uma vitória. Foi a de emplacar ou reforçar, em muitos veículos de imprensa e círculos de opinião, a ideia de que existe uma “guerra” ou “caos” no Judiciário a respeito da situação do político preso.

É o caso da revista The Economist, salvo engano a mais influente do mundo. A publicação entende que as decisões contraditórias sobre soltar Lula e mantê-lo preso “aumentam o risco de que os brasileiros verão esta eleição como ilegítima se Lula não puder recorrer. O caos nos tribunais também reforça as preocupações de que o Judiciário está se tornando mais um fórum para política partidária”.

Tudo isso é uma grande bobagem. O PT, essencialmente a maior e mais poderosa agência de marketing do Brasil, tenta e muitas vezes consegue emplacar suas pautas, especialmente em publicações estrangeiras. Mas elas não resistem a uma leitura atenta.

A própria The Economist informa no texto que (1) Lula foi condenado a 12 anos de prisão; (2) existe no Brasil a Lei da Ficha Limpa; e (3) o pedido para soltar Lula foi feito com cuidadoso timing por deputados do PT durante o plantão de Rogério Favreto, que trabalhou no governo Lula. Ainda assim não percebeu quem está cavando falta e ainda reclamando do juiz.

Não existe nenhum caos ou guerra no Judiciário sobre a situação de Lula. Um desembargador escolhido a dedo por políticos do PT tomou uma decisão incorreta; todo o resto apenas trabalhou para corrigir esse erro, incluindo a presidente do STJ, Laurita Vaz.

No Curso Focas do Estadão, voltado para jornalistas recém-formados, aprendi que toda reportagem pede a consulta a pelo menos duas fontes. No artigo sobre a tentativa de soltar Lula, a The Economist publica entre aspas a fala de só uma pessoa: Valeska Teixeira Zanin Martins, uma das advogadas de Lula.

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