O ANUÁRIO BRASILEIRO de Segurança Pública foi lançado em 2018 a tempo de ser discutido no primeiro debate entre presidenciáveis. Mais uma vez, os números vieram lamentáveis. Exatos 63 880 brasileiros foram assassinados em 2017, um crescimento de 2,9% em relação ao ano anterior. Equivale a 30,8 mortes violentas intencionais para cada grupo de 100 000 habitantes, o que coloca o Brasil entre as nações mais violentas também em dados relativos – já detém o recorde absoluto há tempos.
Mas tudo indica que a realidade é bem pior que a identificada. Porque, no mesmo período, mais de 82 684 pessoas desapareceram em território nacional – o estudo ainda não contava com os casos do Maranhão e de Roraima.
A piora foi de 1,82% em relação a 2016. Se São Paulo tem a menor taxa de homicídios do país, é dono absoluto do maior registro de desaparecidos: 25,2 mil. Mas conseguiu localizar 23 726 pessoas no intervalo. É como se proporcionalmente 94,2% dos casos encontrassem solução, ainda que o resultado possa incluir ocorrências anteriores a 2017.
Esta, contudo, é uma informação ainda rara. Metade dos estados nem sequer forneceu dados a respeito. E meia dúzia encontrou o equivalente a menos da metade dos desaparecidos.
Neste quesito, vale destaque ao Rio Grande do Sul. Se somou 8 653 novos registros no biênio, solucionou 14 752 casos, uma resposta 70% maior.
Outro ponto merece comemoração. Se, em 2016, o total de pessoas localizadas equivalia a apenas um terço das desaparecidas, no ano seguinte, a proporção aproximou-se do segundo terço – por mérito e demérito do trabalho paulista, cujo bom resultado segue desconhecido para a primeira metade deste recorte.
De qualquer forma, é preciso considerar que as 63 800 mortes podem e devem crescer. Principalmente porque a ação truculenta do narcotráfico, pai dessa tragédia, não costuma parar no homicídio, mas se concluir com a ocultação do cadáver.