POUCO ANTES DE DEIXAR a Procuradoria-Geral da República, Rodrigo Janot denunciou o que chamava de “quadrilhões”, ou as organizações criminosas que, no Congresso Nacional, usavam de força política para desvio de dinheiro público. Ainda em 2017, calculou-se que os 34 parlamentares atingidos foram responsáveis pelo desvio de R$ 3,3 bilhões – praticamente o dobro do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão aprovado pouco tempo depois pelos próprios denunciados.
A Folha de S.Paulo fez um levantamento da partilha de tão rico “investimento” do povo brasileiro. Donde se conclui que as três siglas responsáveis pelas quatro quadrilhas, por obra das coligações negociadas para a corrida presidencial, abocanharão mais de 78% do orçamento.
Com o PP de Ana Amélia como vice, Geraldo Alckmin é o presidenciável que atraiu a maior fatia: R$ 828 milhões, dos quais poderá usar até R$ 70 milhões em primeiro turno, e metade do valor em eventual segundo.
Na segunda posição, a chapa do presidiário Lula, nome imposto pelo PT em 2018, que afronta a Lei da Ficha Limpa enquanto direciona ao PT e siglas auxiliares quase R$ 270 milhões.
Fechando o pódio, Henrique Meirelles, representante de um governo Temer dono de uma impopularidade recorde.
Ao se considerar que Fernando Haddad há de ser o candidato do PT, o trio acumula até a redação deste texto intenções de voto que, somadas, não costumam superar os 12 pontos percentuais. Jair Bolsonaro e Marina Silva, que lideram nos cenários válidos, superam com folga os 30 pontos, mas receberão quantias que não equivalem a 3% do bolo.
Desde o início, o fundo eleitoral foi criticado como uma forma de usar dinheiro do povo brasileiro contra a renovação por intermédio das urnas. O cenário delineado no parágrafo anterior comprova que as críticas eram mais do que justas. Resta saber se o eleitor conseguirá reverter isso nas urnas. Mas a prática leva a crer que não.