O VEREADOR CARLOS Bolsonaro (PSC-RJ) faltou à votação na Câmara do impeachment do prefeito Marcelo Crivella (PRB), realizada na quinta-feira (12). O pedido foi rejeitado por 29 votos contra e 16 a favor.
Dois pedidos de impeachment foram apresentados após reportagem de O Globo mostrar que Crivella teve uma reunião secreta com pastores no Palácio da Cidade, sede do governo, em que garantiu soluções para problemas com IPTU e agilidade para cirurgias de catarata. Antes da votação, os vereadores concordaram que a rejeição do primeiro pedido derrubaria automaticamente o segundo. Os autores dos pedidos são o vereador Átila Alexandre Nunes (MDB) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).
Aqui estão alguns trechos do que o prefeito do Rio de Janeiro disse aos pastores:
“Tem pastores que estão com problemas de IPTU. Igreja não pode pagar IPTU, nem em caso de salão alugado. Mas se você não falar com o doutor Milton, esse processo pode demorar e demorar. Nós temos que aproveitar que Deus nos deu a oportunidade de estar na prefeitura para esses processos andarem”.
“(…) Vamos aproveitar esse tempo que nós estamos na prefeitura para arrumar nossas igrejas”.
“(…) Então, se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor falem com a Márcia [assessora de Crivella há 15 anos]. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui uma semana ou duas eles estão operando”.
Para o vereador Carlos Bolsonaro, nada disso foi suficiente para votar pelo impeachment do prefeito – tampouco votar contra. Ele faltou à sessão. No dia seguinte, o vereador tentou se justificar em declaração à Jovem Pan:
“Eu explico aos senhores que tratava-se de um momento onde me encontrava em recesso parlamentar. Existiam outros compromissos a serem seguidos, inclusive muitos deles acompanhando o presidenciável Jair Bolsonaro. E é uma faca de dois gumes. Se eu tô presente e voto com o prefeito, dizem que ele me comprou. E se eu tô presente mas voto contra o prefeito, vão dizer que eu tô do lado do PSOL, que representa tudo que nós abominamos aí, desde sua agenda de sexualidade para crianças nas escolas, passando por liberação das drogas e tudo que não presta dentro da sociedade”.
Quatro anotações sobre a fala de Carlos Bolsonaro:
1. Ele não conseguiu se decidir por que faltou à sessão. Aproveitava o recesso em compromissos eleitorais do pai ou faltou de propósito para evitar as críticas que antecipa?
2. Curiosa a avaliação do vereador sobre a imagem que os outros têm dele. Quem pensaria que o prefeito o comprou, e por quê?
3. Chama a atenção a rejeição do vereador de se ver “do lado do PSOL”. Afinal, os Bolsonaro já ficaram do mesmo lado do PSOL várias vezes em pautas econômicas, como na rejeição ao cadastro positivo, à reforma da previdência, e à cobrança de mensalidades para pós-graduação em universidades públicas.
4. No fim de 2016, Carlos Bolsonaro foi, juntamente com outros 35 parlamentares, co-autor de um projeto de lei que previa salário vitalício para alguns vereadores. O projeto foi derrubado por 40 votos a zero depois da repercussão. Ou seja: Carlos Bolsonaro chegou a manifestar apoio por um projeto que garantiria salário vitalício para alguns vereadores, mesmo que faltem a algumas sessões de vez em quando.