ASSISTI NO CINEMA ao filme Bonifácio – O Fundador do Brasil. Fui um dos participantes do crowdfunding: meu nome aparece nos créditos do filme, em letras pequenininhas, entre outras centenas de pessoas.
A fita pegou carona no sucesso de O Jardim das Aflições, documentário sobre a obra de Olavo de Carvalho de excelente qualidade. O filme de Josias Teófilo é denso, com começo, meio e fim; um ensaio filosófico em forma de filme. O propósito é claro, deixando a biografia do personagem em terceiro plano.
O filme do Bonifácio não é nada disso. Tenta trilhar vários caminhos ao mesmo tempo e não completa nenhum deles. Parece sugerir que o brasileiro deveria se orgulhar do seu legado, de suas tradições; mas não fica bem definido que riqueza é essa. Como cinebiografia do Patriarca da Independência também não funciona; informações importantes sobre o personagem são deixadas para o fim do filme, imprimindo um gosto de derrota quando de sua demissão e exílio pelo governo da Regência. E como exercício de imaginação de como viveu o personagem é pior ainda. O ator Paulo Lopes exerce de forma competente o seu papel, mas a direção exigiu que ele apareça cabisbaixo e taciturno em quase todas as cenas. Não se sente a energia do estadista que o roteiro busca imprimir em palavras.
Bonifácio – O Fundador do Brasil tem apenas sete entrevistados, entre eles Rafael Nogueira, um dos idealizadores do filme. Outro dos que aparecem é o próprio Olavo de Carvalho, que, se desenvolve uma teoria interessante das “camadas de personalidade”, fala pouco sobre o biografado. O filme não ouviu, por exemplo, Laurentino Gomes, certamente um dos autores vivos mais influentes sobre o Brasil do século XIX. A fita traz algumas belas tomadas em Portugal, mas foi para mim uma grande decepção.
Concluída a campanha de sessões fechadas nos cinemas, Bonifácio agora pode ser visto na internet: o “pacote básico” pode ser comprado por 50 reais. É um alto preço, mas existe uma triste razão para pagá-lo: boa parte do filme foi gravada no Museu Nacional, residência das famílias reais portuguesa e brasileira. São as melhores e mais belas imagens que nos restaram da casa destruída pelo fogo sob gestão da UFRJ.