No Roda Viva, já emparedaram Maluf por proibir fumo em restaurantes

Paulo Maluf defendeu argualmente a proibição do fumo em restaurantes. Foto: Leonardo Prado/Câmara dos Deputados

O mediador chegou a dizer que preferia viajar a lado de fumantes por serem “pessoas mais agradáveis”

O RODA VIVA de 23 de outubro de 1995 começou quente. Durante vinte minutos, Paulo Maluf foi bombardeado pela meia dúzia de jornalistas que compunham a bancada do programa da TV Cultura. Motivo: o prefeito de São Paulo assinara um decreto proibindo o consumo de cigarros em restaurantes, coisa que desagradou aos representantes da imprensa.

Revisitada mais de duas décadas depois, a sabatina soa insana. De cara, a medida é descrita como “radical demais”, a todo tempo defendem que fumantes sirvam comida a outros fumantes em ambientes fechados, ou que há temas mais importantes a serem tocados, que tudo não passa de uma distração promovida pelo próprio prefeito. O mediador chega a alegar que se sentia mais à vontade viajando ao lado de fumantes, pois seriam pessoas supostamente mais agradáveis. Os representas da Folha de S.Paulo, Estadão, IstoÉ, Diário Popular, Playboy e Rádio Eldorado viam inconstitucionalidade na medida, argumentavam que vinha sendo derrotada na Justiça, e sobrou até para o uso do cinto de segurança, descrito como outra arbitrariedade estatal contra as liberdades do indivíduo.

Maluf exagera um pouco quando insiste que todos os fumantes morreriam de câncer, e não consegue esclarecer que não cabe a um chefe reservar vagas a fumantes, o que seria um estímulo a um vício para lá de danoso. Mas, aos olhos do tempo, portou-se como um heróico defensor de uma iniciativa correta. Em dado momento, destacou: “O direito de você se suicidar não te dá o direito de assassinar o seu vizinho“. Mais adiante, profetizou: “Daqui a dez ou vinte anos, vocês vão ver que as pessoas vão rir daqueles que se suicidaram fumando“.

Errou em parte: ninguém ri da morte por consumo de cigarro, ainda que o consumo de fato tenha caído. Mas é possível rir da arrogância jornalística, que, se colocando de maneira tão incisiva contra uma decisão tão bem referendada pela opinião pública, não percebia o mal que o fumo fazia aos fumantes passivos.

Ironicamente, o embate se concluiu com duas participações dos telespectadores referendando o decreto.

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