O STF só aceitou a denúncia contra o Mensalão por pressão da imprensa

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Ricardo Lewandowski chegou a ser flagrado na noite de Brasília comentando que uma reportagem polêmica alterou os votos no Supremo

Quando um bloco de papel e caneta muda a história do país. Foto: Picjumbo / Pixabay

Ricardo Lewandowski foi o primeiro ministro indicado por Lula após Roberto Jefferson denunciar para todo o país que o PT comprava a base parlamentar com o que o próprio deputado chamava de Mensalão. Carmen Lúcia foi a segunda indicação.

Na semana iniciada em 19 de agosto de 2007, o Brasil aguardava o STF decidir se aceitaria a abertura de ação penal contra os 40 acusados de envolvimento no esquema. Naquela noite, a Folha de S.Paulo calculava o placar em 4 a 4, havendo apenas dúvidas sobre o voto justo dos dois calouros do tribunal.

Três dias depois, em uma polêmica reportagem, com imagens de Roberto Stuckert Filho, O Globo mostrou ambos os personagens combinando por email como se posicionariam após a apresentação dos promotores e advogados. Curiosamente, a Folha de S.Paulo havia conseguido imagens ainda mais completas, mas simplesmente se recusou a publicar, gerando protestos do ombudsman, que concluiria a coluna sugerindo: que o erro histórico da semana passada seja um tropeço, não uma tendência.

Na semana seguinte, o STF aceitaria a abertura do processo, não sem antes Ricardo Lewandowski divergir do voto de Joaquim Barbosa por um total de 12 vezes, em especial nas denúncias contra os Josés, Dirceu e Genoino, por formação de quadrilha – em relação ao primeiro, o ministro foi a única divergência.

Naquela noite, Lewandowski jantou no restaurante do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Além de fazer questão de cumprimentar o anfitrião, se retirou para, por 10 minutos, prestar contas com um “Marcelo” ao telefone. A conversa seria flagrada por Vera Magalhães, ainda repórter da Folha.

No desabafo, o ministro se justificava dizendo que “a imprensa acuou o Supremo”, que “todo mundo votou com a faca no pescoço” e que “a tendência era amaciar para o Dirceu”. E Vera fez questão de destacar:

Ontem, na conversa de cerca de dez minutos com Marcelo, opinou que a decisão da Corte poderia ter sido diferente, não fosse a exposição dos diálogos. “Você não tenha dúvida”, repetiu em seguidas ocasiões ao longo da conversa.

E mais:

No telefonema com Marcelo, ele deu a entender que poderia ter contrariado o relator em mais questões, não fosse a suposta pressão da mídia.

Ao tal Marcelo, no entanto, ou Lewandowski soou um tanto ingênuo quando argumentou: “para mim não ficou tão mal, todo mundo sabe que eu sou independente”.

Em 2012, Josias de Souza revelaria que se tratava de Marcelo Lewandowski, irmão do membro do STF. E acrescentaria, sobre o juiz:

Formara-se na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, berço sindical e político de Lula. A família Silva não lhe era estranha. A mãe do ministro fora vizinha de Marisa Letícia, a mulher de Lula.

Os mensaleiros seriam condenados por formação de quadrilha, mas o PT ganharia tempo e substituiria membros do STF por Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki. Ambos mudariam os votos já apresentados e virariam o placar a favor da absolvição de, entre outros, José Dirceu e Jose Genoino.

Dos sete ministros indicados por Lula após o Mensalão, apenas Luiz Fux votou pela condenação. E foi chamado de traidor pelo petismo.

Independente disso, a Suprema Corte brasileira só aceitou a denúncia contra os mensaleiros porque parte da imprensa fez a devida pressão. Por isso, Sérgio Moro defendia tanto que a opinião pública estivesse em determinado lado, ou justiça contra poderoso jamais seria feita.

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