Haddad tem uma esperança: Eduardo Azeredo

Eduardo Azeredo no Palácio da Liberdade em 1995: virada incrível na eleição. Foto: Geovani Pereira/Agência O Globo

É POSSÍVEL PARA FERNANDO HADDAD vencer a eleição? Matematicamente sim, e ainda existe um precedente. A esperança do PT se chama Eduardo Azeredo.

Era 1994 e Hélio Garcia (PTB) governava Minas Gerais. Na época ainda não havia reeleição. Um outro Hélio, chamado Costa¹, largou como favorito à sucessão, disputando pelo PP. Já Garcia apoiava o ex-prefeito Eduardo Azeredo (PSDB).

Saldo do 1º turno: Hélio Costa teve 48% dos votos, contra 27% de Azeredo. Uma diferença de 21 pontos percentuais, contra os “apenas” 17 que separaram Bolsonaro de Haddad em 7 de outubro. Matematicamente, a vitória de Costa era ainda mais certa.

E eis que aparece o resultado do 2º turno. Eduardo Azeredo venceu com 58,65% dos votos, contra 41,35% de Hélio Costa. O pepista não perdeu nenhum voto. Teve mais de 3 milhões, um aumento em relação aos 2,8 milhões da primeira etapa. Já o tucano marcou milagrosos 4 370 836 votos, aumento de 168%, verdadeiro milagre da multiplicação. É certo que herdou praticamente todos os votos antes dedicados a José Alencar (PMDB) e Carlão (PT); cada um ficara com 10% do eleitorado.

Em entrevista à Folha na época, Eduardo Azeredo declarou que “[f]oi muito importante o apoio do governador.” O próprio Garcia se referiu a algum episódio de destempero do adversário: “o doutor Calixto (Hélio Calixto da Costa), ao xingar, irritou o povo”. Hélio Costa prometeu denunciar o uso da máquina do governo em favor da candidatura tucana e a compra de votos com dinheiro público em 300 municípios. Em nova tentativa de chegar ao Palácio da Liberdade dezesseis anos depois, perdeu no 1º turno para outro tucano, Antonio Anastasia.

O cenário em 1994 era muito diferente do de hoje, naturalmente. FHC acabara de ser eleito e contou com muitos cabos eleitorais interessados na vitória de tucanos. O País vivia a euforia do Plano Real e da conquista do tetra. E a população se informava principalmente por rádio e televisão, em uma programação homogênea para todo mundo, em vez de nas bolhas do WhatsApp.

Mas não deixa de ser uma inspiração para quem ainda acredita na possibilidade matemática de Haddad virar o jogo.

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Epílogo. Passada a emenda da reeleição em 1997, Azeredo tentou estender a estadia no governo estadual. Perdeu em 1998 para o ex-presidente Itamar Franco, mesmo tendo a ajuda do valerioduto. Posteriormente o valerioduto receberia, com esforço dos petistas, o nome de  “mensalão tucano”, totalmente incorreto já que ele nunca foi acusado de comprar deputados.

Azeredo foi condenado em segunda instância a 20 anos e um mês de prisão por peculato e lavagem de dinheiro. Está preso desde maio deste ano.

Não existe nenhuma campanha “Azeredo livre”.

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¹ para falar como Ciro Gomes.

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