OS NÚMEROS DE uma democracia como o Brasil são assustadores. Em 2016, ano de eleições municipais, quase meio milhão de brasileiros disputaram cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador em mais de 5 000 cidades. Mas 18 500 mil candidatos terminaram o pleito sem qualquer voto – ou seja, nem o próprio votou em si mesmo.
Se a postura causa estranheza, levanta sérias suspeitas ao se observar o perfil dos políticos sem voto: nada menos do que 86% – por volta de 16 000– eram mulheres. Mas os especialistas consultados pelo G1 não hesitaram em apontar o problema: os partidos estariam usando candidaturas falsas para cumprirem com a cota feminina.
Enquanto este texto é redigido, por volta de 27 500 solicitantes aguardam o TSE confirmar a candidatura para 2018. Contudo, já é possível delinear um perfil dos postulantes. E confirmar que nem o Partido da Mulher Brasileira conseguiu ter uma maioria de mulheres nas chapas – ainda que lidere proporcionalmente, com quase 40% de registros femininos.
No geral, percebe-se um esforço para se bater a cota estipulada em lei. Mas 14 das 35 siglas estão até 2 pontos percentuais abaixo do limite exigido. E apenas outras quatro foram além de 33%: PSTU, PCB, PSOL e PV.
Em números absolutos, PSOL, PSL e PT são os partidos que lançaram mais candidatas à disputa. Mas, salvo uma atualização no banco de dados do TSE, o partido de Jair Bolsonaro segue 1,61 pontos percentuais abaixo da cota.
Essa, claro, não é a solução para o incômodo problema. No curto e médio prazo, cotas não passam de paliativos que mascaram sintomas graves na esperança de que, a longo prazo, algum efeito positivo torne a própria medida desnecessária. Mas, se há lei, que seja cumprida. No entanto, segue fazendo sentido o receio de que as fichas tenham sido inscritas por intermédio de laranjas.
Nada disso impede que o voto feminino seja fundamental para a definição da principal disputa de 2018. Restando a dúvida, contudo, a respeito do uso ou não desse poder por parte das eleitoras.