Cúpula Conservadora das Américas articula derrubada de Maduro

Eduardo Bolsonaro: primeiro passo é não reconhecer eleições na Venezuela. Foto: Cedê Silva/A Agência

Eduardo Bolsonaro: primeiro passo é não reconhecer eleições na Venezuela

Foto: Cedê Silva/A Agência

A CÚPULA CONSERVADORA DAS AMÉRICAS, realizada neste sábado (8) em Foz do Iguaçu (PR), deixou claras algumas intenções de parte da direita latino-americana. A depender dos palestrantes, governos e oposições da região vão se articular para derrubar Nicolás Maduro do poder, e quem sabe também pôr fim às ditaduras em Cuba e na Nicarágua.

Questionado por A Agência durante entrevista coletiva, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) confirmou defender a saída de Maduro como objetivo do Brasil. “Eleições livres seriam a melhor maneira”, disse, “mas devido às ultimas condutas dele [Maduro], acredito que isso não vai ocorrer”. O primeiro passo seria os “países democráticos não reconhecerem” a eleição presidencial mais recente, ocorrida em maio. O sucessor de Chávez venceu (em tese) em todos os estados e marcou 67% dos votos.

Outros palestrantes foram na mesma linha. José Antonio Kast, que foi candidato à presidência do Chile, declarou que as direitas da América Latina podem libertar Cuba, Nicarágua e Venezuela. A senadora colombiana María Fernanda Cabal afirmou que “juntos vamos derrubar as tiranias” nesses três países. O juiz venezuelano Miguel Angel Martin afirmou que países como Irã e Turquia estão articulando uma espécie de nova Crise dos Mísseis, desta vez em Caracas, para impedir a derrubada de Maduro.

Os palestrantes também pareceram comprometidos em fazer da Cúpula Conservadora das Américas um evento recorrente, cujas próximas edições devem ser realizadas na Colômbia e no Paraguai.

Nem todos os participantes tinham credenciais democráticas exemplares. Kast, por exemplo, entende que 1973 foi a “libertação” do Chile e que Pinochet não era um ditador. E da obsessão de Eduardo Bolsonaro por Ustra já falamos anteriormente.

Além disso, a retórica que se desenhou foi bastante inflamada. A senadora Cabal disse que “comunistas são psicopatas rodeados de histéricos” e que a “estratégia pervertida da esquerda nos obriga a nos unirmos”. E pontificou: “esta guerra é espiritual”. Roderick Navarro, ativista da Venezuela, entende que o comunismo ameaça os pilares da “hispanidade”: família, pátria e Deus.

Apesar da fama de estável, a América Latina viveu vários conflitos nos últimos anos. Em março de 2008, a Colômbia bombardeou um acampamento das FARC no Equador. No ano seguinte, o Brasil abrigou Manuel Zelaya em sua embaixada em Honduras em uma tentativa de ajudá-lo a retomar o poder após ser derrubado pela Suprema Corte. Em 2012, companheiros do Foro de São Paulo puxaram o tapete do Paraguai para expulsá-lo do Mercosul afim de incluir a Venezuela. E como já vimos, a reunião do Foro em julho deste ano, da qual Dilma e Gleisi participaram, declarou apoio aos governos de Nicarágua e Venezuela (em Cuba não há oposição nas ruas, por motivos óbvios).

Os Bolsonaros não são nada organizados ou coesos. O bolsonarismo é uma anti-tribo, unida pelo ressentimento contra muita coisa, mas sem prioridades definidas. A própria Cúpula Conservadora iria acontecer no fim de julho, e foi cancelada de última hora para não ser caracterizada como evento eleitoral.

Mas se a articulação internacional do governo Bolsonaro superar a de todos os outros campos, veremos na América Latina uma espécie de nova Guerra Fria, entre a turma do Foro e a turma da Cúpula. E durante a Guerra Fria, como sabemos, não foram poucos os momentos em que o termômetro estourou.

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