FERNANDO PIMENTEL DESISTIU da reeleição. Essa é a única leitura possível de sua participação no debate da Band Minas na madrugada desta sexta-feira (17).
O atual governador de Minas Gerais, em vez de apresentar um discurso moderado, disparou os vários clichês do PT. Chegou a defender a candidatura de Lula duas vezes na mesma resposta. Falou que seu governo recebeu uma “herança maldita” das administrações tucanas (a respeito da qual, ao que parece, ele nada fez em três anos e meio). Pediu ao eleitor o voto nos candidatos “do campo democrático”. Sustentou que a situação vai se normalizar a partir de 2019, com Temer fora e (possivelmente) Lula na Presidência. Citou o “golpe de Estado“. E encerrou sua declaração final, pasmem, com o slogan “Lula Livre” (o “Fora Temer”/”Toca Raul” da esquerda hoje).
Pimentel também chegou a dizer que o parcelamento de salários de funcionários públicos, que ele iniciou em janeiro de 2016 (com Dilma presidente) foi “agravado” depois de Temer assumir (em maio).
É fácil entender a postura de Pimentel. O comando liderado pelo presidiário central do PT, ao que tudo indica, baixou o seguinte “salve”: quem não tiver chance de ganhar deve cair atirando e investir na narrativa.
Em pesquisa divulgada no fim junho, o senador Antonio Anastasia (PSDB) aparece com 27% das intenções de voto, contra 15% de Pimentel. Em outra mais recente, o tucano tem 21%, contra 13% do petista. Para piorar, o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), cuja candidatura conta com a oposição de Lula, segue a disputa sub judice e apareceu no debate na Band. Sua presença tira ainda mais votos de Pimentel.
O atual governador é mal-avaliado pelos prefeitos, porque o governo estadual deve milhões de reais em repasses às prefeituras. Faltou ao congresso de prefeitos realizado no Mineirão em junho, ao qual comparecem os outros pré-candidatos. O próprio vice-governador Antônio Andrade (MDB) disse no evento que Pimentel não foi por “medo de ser vaiado”.
Ainda no debate na Band, Anastasia lembrou que cerca de 600 prefeitos mineiros irão a BH na próxima terça (21) para fazer um protesto contra o governo estadual, o que indica uma certa “ownership” do senador sobre os importantes cabos eleitorais.
Pimentel também é mal-avaliado entre os servidores públicos, por causa do parcelamento dos salários. E dentro do grupo dos servidores, é bem claro que os policiais militares este ano tenderão ao voto anti-PT (aliás, o apelo de Bolsonaro entre policiais pode explicar boa parte da razão de seu eleitorado ser mais rico, mais escolarizado e mais masculino que a média do Brasil).
Não tive tempo ainda de assistir aos debates nos outros Estados, mas não ficarei surpreso se constatar que os candidatos petistas com baixo desempenho nas pesquisas estão atirando “Lula Livre”, enquanto os competitivos adotam um tom mais moderado.