O LIVRO História do Brasil, do professor e pesquisador João Daniel Almeida, é um dos títulos mais vendidos da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), ligada ao Itamaraty. Mestre em Relações Internacionais pela PUC-Rio, Almeida é fundador do Curso Clio, o mais prestigiado cursinho para candidatos à carreira diplomática. Quem entende do assunto chama o livro de “indispensável” para quem vai prestar um dos concursos mais difíceis do Brasil.
Pois bem. Nesta segunda-feira (3), O Globo publicou que o manual, publicado em 2013, tem críticas ao presidente-eleito Jair Bolsonaro. Diz um trecho:
“O clube militar que motivou a República, o tenentismo e debateu a questão do petróleo nos anos 50 é retratado hoje como uma máquina do tempo, nostálgica e excêntrica. O principal defensor dos interesses castrenses no Congresso é um zelota do porte de Jair Bolsonaro, que se orgulha de sua homofobia. Não poderiam estar em pior situação desde o período regencial. Por terem se descolado do resto da sociedade desde o final do Regime Militar foram relegados à irrelevância, posição profundamente perigosa em um país com pretensões internacionais de potência”.
Após a publicação da notícia, o livro foi removido do site da Funag. A edição digital podia ser baixada gratuitamente. Em seu Facebook, Almeida escreveu, em post público: “Não imaginava que seria eu o primeiro a ser censurado em um governo que ainda nem começou mas o apoio de vocês me enche de energia apesar de algum temor”.
Duas notas:
1. Bolsonaro defende, em tese, o Escola sem Partido, segundo o qual “o professor apresentará (…) as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”. O livro mais popular do site da Funag não serve, ou o Escola sem Partido não incluirá o Rio Branco?
2. O que Bolsonaro achou de errado no trecho do livro? Será que ele acha que “castrense” é fã de Fidel Castro?
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