HÁ MAIS DE DEZ ANOS O PT usa o discurso do voto como deus. Absoluto, o voto justificaria tudo, e em seu nome seriam lavados todos os pecados. Fui procurar no Google um artigo de Reinaldo Azevedo chamado “Urna não é tribunal. Não absolve ninguém“. A data? Setembro de 2006, antes da reeleição de Lula!
O discurso do voto como deus absoluto ganhou ainda mais força nos últimos anos. Foi usado para condenar o impeachment de Dilma como “golpe”, como se os parlamentares que a demitiram tivessem chegado ao Congresso por geração espontânea e a Diva das Américas fosse uma soberana absoluta. Foi repetido na escabrosa campanha “Diretas Já” – a em favor de Lula, não a verdadeira, dos anos 80. E foi empenhado este ano contra a Lei da Ficha Limpa que o próprio Lula assinou com o objetivo de pregar na cruz do voto os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Pois bem. Não é apenas o eterno discurso do “meu adversário é fascista” que voltou para morder o PT este ano. O do deus-voto também. E esse voto absoluto, sem condicionantes, como se a democracia se resumisse a ele em vez de tê-lo como um de vários pré-requisitos, agora lança sobre o povo peteba toda a sua fúria.
Lideranças políticas rasgaram a Constituição para permitir a candidatura de Dilma ao Senado. Maiorias no TRE-MG e no TSE confirmaram o absurdo. O PT investiu na ciclista uma das campanhas mais caras das eleições. Pois bem, o povo reconduziu a impichada ao poder? Não. A dondoca ficou em 4º lugar. Excomungada pelo deus-voto.
E na eleição presidencial? O PT não dizia até outro dia que tem que ganhar no voto, que o que vale é o voto, que o voto isso, que o voto aquilo? Pois muito bem. Com uma vitória de Bolsonaro no voto, vão agora dizer o quê? A única solução é a apostasia – ou culpar o diabo do WhatsApp.