SE NÃO OCORRER DRÁSTICA MUDANÇA nos números, a posse de Jair Bolsonaro foi um fenômeno popular, superando com folga os públicos de Lula e Dilma.
Em 1º de janeiro de 2015, o Jornal Nacional informava que 30 000 pessoas acompanharam a segunda posse de Dilma Rousseff. Diz o texto da reportagem: “[o] Partido dos Trabalhadores organizou caravanas em vários estados e levou a Brasília 400 ônibus, mas não informou quanto gastou”.
Na primeira posse, em 2011, o público também foi de cerca de 30 000, segundo publicaram IG e Estadão, com base em dados da Polícia Militar do DF.
Apenas cerca de 10 000 pessoas compareceram à segunda posse de Lula, em 2007, segundo registro no site do Senado.
Ao levarmos 2003 em conta, começa uma controvérsia. Na época, a PM estimou que 150 000 pessoas compareceram à primeira posse de Lula. Mas um trabalho encomendado pela Folha e realizado pela Defesa Civil contou cerca de metade: 71 000. Nesta terça-feira, notícia do UOL recupera a matéria da Folha, mas insiste que “o número oficial” foi mantido em 150 000.
Ora, até que a Defesa Civil ou outra autoridade competente realize estudo do mesmo tipo, temos a informação de que a posse de Jair Bolsonaro foi assistida por 115 000 pessoas – sem Duda Mendonça, sem ônibus encomendados e sem shows. A posse de Lula em 2003 teve quatro palcos de shows, com apresentações da bateria da Mangueira, Zezé di Camargo e Luciano, Fernanda Abreu e Gilberto Gil. Na Esplanada de 2019 não havia sequer um telão perto do Congresso.
O bolsonarismo é um grande fenômeno popular. A Agência esteve no meio da multidão nos gramados da Esplanada e testemunhou a grande variedade de cores, sotaques e idades entre os apoiadores (embora, é verdade, as filas da segurança de mulheres andassem muito mais rápido, dada a grande preponderância masculina do público).
Bolsonaro foi a maior força eleitoral do País em 2018. Há tempos sua presença atrai multidões em aeroportos. E há um aspecto que torna essas multidões diferentes das petistas: são descoordenadas, espontâneas. As camisetas de apoio levam todo tipo de estampa, o exato oposto do que ocorre em eventos do PT, nos quais a multidão é bem mais uniformizada. E não saem organizadinhas em ônibus, como vi acontecer em Contagem (MG) no lançamento da pré-candidatura de Lula. O bolsonarismo não nasceu nas universidades nem tem um comando central. É um fenômeno popular, e muito. Recusar-se a entender isso no momento em que ele toma posse da Presidência é teimosia demais.