A estranha votação de Aécio – ou seria de Dilma e Marina?! – em 2014

Único erro ou único acerto dos institutos em 2014? Foto: George Gianni

O Brexit já provou que a abstenção é um fenômeno que explica viradas na reta final

COMO TEM SIDO comum em eleições majoritárias, os institutos de pesquisa saíram desacreditados do primeiro turno da corrida presidencial de 2014. Se acertaram na margem de erro a votação que Dilma Rousseff receberia nas urnas, erraram em 10 pontos porcentuais o resultado do adversário do segundo turno. No festival de desculpas, alegaram que o eleitor, em resposta à pesquisa da véspera, que mostrou uma virada de Aécio Neves sobre Marina Silva, migrou em peso para o tucano por ver nele alguém com mais forças para derrotar o PT.

O gráfico abaixo, com as médias de 44 pesquisas de quatro institutos distintos que atuaram na campanha, destaca o fenômeno, com Aécio em amarelo num curva final de vertiginoso crescimento.

Mas a teoria apresentada como desculpa ignora que o gráfico acima mistura cenários com votos nulos e o resultado final da urna, em que apenas votos válidos são contabilizados. Os mais de 43 milhões de brasileiros que escolheram Dilma, por exemplo, representavam pouco mais de 30% dos eleitores. Por este recorte, Aécio superou os 24 pontos, mas Marina não chegou aos 16. No gráfico abaixo, o fenômeno é destacado, com a linha roxa substituindo indecisos por abstenções no ponto final.

Em outras palavras, é como se os institutos tivessem acertado a votação que Aécio receberia, mas não percebessem que Dilma e Marina perderiam um quarto dos próprios votos no intervalo entre encontro com o pesquisador e o depósito do voto na urna.

Duas teorias explicariam o fenômeno e elas podem perfeitamente se somar: o eleitor tucano não é exatamente tucano, mas antipetista, e precisou se decidir entre mais opções mesmo na reta final, fazendo com que um volume maior de indecisos cobrisse a abstenção do eleitorado de Aécio; a abstenção não se divide igualmente, prejudicando muito mais as classes mais pobres, de onde Dilma e Marina mais recebem votos, mas não chegando a fazer grandes estragos na classe média, historicamente mais simpática ao PSDB.

A abstenção é um fenômeno a ser melhor compreendido pelos institutos. Este texto especula que, no Brasil, responderia mais a diferenças sociais. Mas, no Reino Unido, já se sabe que tem um peso etário muito forte, o que explica a virada em benefício do Brexit em 2016. Enquanto 90% dos eleitores mais velhos compareceram à votação, apenas 64% dos mais jovens, que mais se empolgavam com a ideia de permanecerem na União Europeia, fizeram o mesmo.

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