O problema não era Lula sair, e sim ele voltar

Máscara de Lula no caixão de Vavá mostra a importância do falecido para os petistas. Foto: Reprodução/TV 247

Máscara de Lula no caixão de Vavá mostra a importância do falecido para os petistas.

Foto: Reprodução/TV 247

LULA NÃO FOI AO ENTERRO do irmão Vavá, realizado nesta quarta-feira (30). Genival Inácio da Silva, que também era filho de Dona Lindu e Seu Aristides, morrera no dia anterior, aos 79 anos.

Como sabemos, o pedido da defesa de Lula para que ele deixasse Curitiba para se despedir do irmão foi negado por todas as autoridades competentes. Apenas a última instância, o presidente do STF, autorizou a saída, em circunstâncias restritas. Dias Toffoli proibiu o uso de celulares e outros meios de comunicação, a presença de imprensa e declarações públicas. Lula poderia se encontrar com parentes em um quartel.

A decisão de Toffoli foi publicada por volta das 14h, quando o corpo de Vavá já estava sendo sepultado no cemitério em São Bernardo do Campo. Lula não quis sair. Ficou na cela.

É irrelevante que Lula, quando Presidente, tenha deixado de comparecer aos velórios de dois meio-irmãos. O direito de um presidiário ao luto não foi negado nem mesmo pela ditadura, quando Lula deixou a carceragem do Dops para ir ao enterro de Dona Lindu, em 1980.

Mas o fantasma que assombrava nas últimas 48 horas não era o da ditadura ou o de Lula na Presidência, e sim o do ex-presidente Lula, nove meses atrás.

Sergio Moro determinou a prisão de Lula em 5 de abril de 2018. Lula descumpriu sua promessa e não foi a pé a Curitiba. Em vez disso, desafiou a Justiça por duas noites, armando um grande circo em São Bernardo.

Circo de Lula em 7 de abril de 2018, dois dias após sentença de Sergio Moro.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A militância petista chegou a se desencontrar no discurso: o senador Lindbergh Farias falou em uma “missa de 1 ano da morte de Dona Marisa”. Como a ex-primeira-dama morreu em fevereiro, lembraram posteriormente que 7 de abril era o aniversário dela.

Lula e seus comparsas se demoraram longamente em frente às câmeras, e o condenado não ficou satisfeito até a produção daquela fotografia de Francisco Proner Ramos, reproduzida por 13 entre 10 petistas, que dá a impressão de algumas dezenas de fotógrafos e militantes serem um mar de gente.

No velório de Vavá, houve igual mistura de política e religião, amálgama comum no partido favorito da turminha do Estado laico. Em certo momento, o padre convida os presentes a uma oração: “nós vamos rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria pois tudo isso se resolve rezando, não julgando, mas rezando, pois só Ele consegue…” e nesse momento é interrompido por alguém que grita “Lula Livre!”, e a multidão segue o coro. Apenas 35 segundos depois o padre consegue iniciar o Pai-Nosso.

O enterro de Vavá, como deixam claras todas as imagens do evento, foi 100% a respeito de Lula e 0% a respeito do falecido.

Agora vamos imaginar que Lula fosse liberado, ainda cedo, e comparecesse ao enterro de Vavá. É um direito. Muito bem.

Quando Lula sairia do local? Seria novamente cercado pela mesma militância que por várias vezes “o impediu” de se entregar à polícia naquele 7 de abril? Algum desses militantes perderia essa oportunidade? Por quanto tempo Lula ficaria?

Se Lula não tivesse feito o que fez nas 48 horas posteriores à publicação de sua sentença, não haveria argumento para não liberá-lo para se despedir do irmão. Mas a questão nunca foi soltar Lula – e sim ele voltar.

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