Os políticos brasileiros costumam reservar as conversas menos republicanas aos passeios que dão nos próprios veículos. São ambientes da máxima segurança do proprietário, o deslocamento evita o flagra de câmeras de segurança e qualquer grampo vem recheado de ruídos do trânsito, o que dificulta a produção de provas.
Por isso, os motoristas possuem uma importância que supera em muito a imaginação da opinião pública. Afinal, testemunham o que ninguém deveria testemunhar. Se não são da máxima confiança do patrão, podem fazer estragos gigantescos apenas batendo com a língua nos dentes.
Foi o que aconteceu em 1992, quando Eriberto França surgiu na capa da revista IstoÉ. O motorista de Ana Acioli, secretária do presidente da República, depois reafirmaria à CPI que PC Farias bancava as despesas da família de Fernando Collor. Dentre elas, a polêmica reforma na Casa da Dinda, que era utilizada pelo presidente da República como residência oficial.
Partiu da mão de Eriberto o cheque que, com assinatura de PC, compraria o famoso Fiat Elba. O testemunho levou à colheita de uma prova concreta e fundamental para a queda de Collor pelo processo de impeachment.
O motorista viria depois a trabalhar para a própria revista IstoÉ, o Ministério do Trabalho e a Empresa Brasileira de Comunicação. Mas, em 2013, reclamava da falta de reconhecimento da importância histórica da contribuição dada 21 anos antes.