Jair Bolsonaro caminhava para conquistar o sexto de sete mandatos como deputado federal quando, em março de 2010, criou no Twitter o perfil que, ao final de 2018, seria convertido numa espécie de “sala de imprensa” oficial do presidente eleito. Como registra a própria rede, publicou pouco mais de 6 000 mensagens até a redação deste texto, uma média de quase dois por dia. Ainda assim, o tweet abaixo é o único a mencionar as palavras “milícia” ou “miliciano” – além das variações no plural.
Como se percebe, apesar de se tratar de um parlamentar que completava 27 anos representando o Rio de Janeiro, o congressista que constantemente hasteava a bandeira da segurança pública não fazia na rede social preferida qualquer referência às milícias que aterrorizavam a Zona Oeste da capital fluminense, abrindo exceção apenas às que defendiam Nicolás Maduro na Venezuela.
Mas o reconhecimento de que milícias são um mal a ser combatido – ainda que em outro país – já demonstra um certo avanço, uma vez que o futuro presidente da República defendia, nove anos antes, que nem todo miliciano era “símbolo de maldade”. Em 2005, o então deputado federal chegou a usar os microfone da Câmara buscando ajudar um assassino que se tornaria chefe do Escritório do Crime, a mesma facção que, suspeita-se, estaria por trás da morte de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018.