A PESQUISA BTG PACTUAL encomendada ao FSB deu-se a um trabalho a que todos levantamentos deveriam se dedicar. Porque, em dado momento, questionou ao entrevistado a real intenção de comparecer à votação. Afinal, e como deveria ser de pleno conhecimento, a abstenção maior de um determinado perfil foi crucial para uma virada a favor do Brexit em 2016.
Dos 2 000 eleitores abordados em todo o país, apenas 71% deram certeza de comparecimento no dia da votação, com um décimo disso confessando que nem votará. Há ainda uma massa de 22% que não sabe se irá votar ou não.
O mais interessante, contudo, é o recorte do levantamento. A certeza de ausência sobe a 10% entre idosos e população economicamente inativa, e a 12% entre os menos escolarizados. Por outro lado, a certeza de comparecimento cai a 63% entre os eleitores que só possuem primeiro grau, e a 64% entre os mais pobres. Quem mais deu garantias de presença? Os mais ricos (81%) e estudados (79%), ou seja, a elite.
O TSE informou que as mulheres superam os homens em 7,4 milhões de títulos de eleitor. Mas, de acordo com a pesquisa, “apenas” 51,8 milhões de eleitoras garantem que comparecerão, contra 51,7 milhões de eleitores, reduzindo a vantagem a apenas 90 mil votos. Ao se considerar que 6,2 milhões de faltosas já estariam cientes desta condição, com os 4,2 milhões de faltosos, a vantagem se inverte com 2,1 milhões de votos de vantagem para eles.
Em outras palavras, é possível afirmar que a abstenção favorece homens, escolarizados e ricos. E este é basicamente o perfil do eleitorado de Jair Bolsonaro, que surgiu liderando a disputa com 24% no cenário mais provável, aquele que Lula é substituído por Fernando Haddad.
Entre homens, a votação do candidato do PSL sobe para 34 pontos percentuais, semelhante aos 32% somados entre os eleitores com ensino superior. Mas em nenhum recorte Bolsonaro marca mais do que os 35% do eleitorado com maior renda.
Por lógica semelhante, é possível concluir que a abstenção há de prejudicar Marina Silva. A candidata do Rede é a preferida entre as mulheres (19%), entre os mais pobres (22%) e entre aqueles que não passam do primeiro grau (23%) – ou justamente o perfil que menos promete comparecer ao pleito.
Desta forma, é possível afirmar que, uma vez convertidos em válidos, a votação de Bolsonaro deve se aproximar ou mesmo superar o topo da margem de erro, com a de Marina Silva caindo para o limite inferior da margem. E que este fenômeno explicaria o gigantesco crescimento de Aécio Neves no dia da conclusão do primeiro turno em 2014.