COMO SE NÃO SOUBESSE que a Lei da Ficha Limpa torna impossível a eleição de Lula, preso por corrupção e lavagem de dinheiro, a pesquisa CNT/MDA foi às ruas entre 15 e 18 de agosto sem testar o nome daquele que, já se sabe, substituirá o ex-presidente. Desta forma, deu-se publicidade apenas a um cenário já alvo de uma penca de impugnações na Justiça Eleitoral.
Contudo, o levantamento questionou aos 37,3% que prometeram voto ao presidiário em quem votariam caso (sic) a lei seja cumprida. Nesta tabela, incluíram o nome de Fernando Haddad, que pescou a maior fatia da herança, ainda que tímida.
Com esta informação, é possível desenhar um segundo e mais provável cenário, ainda que a prática não siga o padrão de pesquisas eleitorais. Por ele, percebe-se que a pesquisa traz notícias boas ao PT, com o presidenciável empatado na margem de erro de 2,2% com Ciro Gomes, levemente à frente de Geraldo Alckmin, e com 15 pontos percentuais de indecisos, o que denota que há muito voto a se conquistar – ou reconquistar.
Faltando menos de 50 dias para a definição do primeiro turno, o jogo segue incerto. Parece mais tranquilo para Jair Bolsonaro, mas o candidato carece do bem mais valioso da cultura política nacional: tempo de TV.
É difícil imaginar que o candidato do PSL “desidrate”, ou seja, perca a base de eleitores tão apaixonados que já acumulou. Mas talvez haja margem para que Alckmin e Haddad cresçam, pois compuseram as maiores coligações.
Caso a virada se concretize, o Brasil terá no segundo turno a sétima disputa seguida entre tucanos e petistas, o que é visto por muitos como uma rasteira na ideia de renovação. Mas também pode ser entendido como um alerta de que a tal renovação precise antes amadurecer o próprio discurso.